Por que as novas gerações bebem cada vez mais café?

E como isso vai transformar o mercado da bebida no mundo inteiro?

São as pesquisas que dizem: os jovens estão se iniciando no hábito de beber café cada vez mais cedo. Segundo uma pesquisa feita pelo instituto de inteligência de mercado Euromonitor, 17 anos é a idade média com que muitos começam a consumir a bebida frequentemente – e não apenas em ocasiões determinadas. Foi a média mais baixa desde que o instituto começou a fazer as pesquisas com relação à bebida, há mais de uma década.

Os motivos para isso são diversos: entrada mais cedo no mercado de trabalho (e quem aí não precisa de umas boas xícaras antes de iniciar aquele relatório ou finalizar as planilhas?), disseminação da bebida (e o marketing das grandes cafeterias mundo afora tem muita relação com isso), maior oferta de bons cafés, etc. Mas a questão é que os jovens estão transformando o consumo da bebida em todo mundo – e isso está afetando (positiva e drasticamente) o mercado global do café.

Jovens estão bebendo cada vez mais café

De novo os millenials

A aparentemente insaciável sede de café das novas gerações, como os millennials, está ajudando a empurrar a demanda global para um recorde. Os millenials compõem a geração que nasceu próxima à virada do milênio e que agora vivem suas fases entre adolescência e o início da vida adulta tem uma identificação muito maior com a comida: preocupam-se com o que comem, evitam comidas processadas, cozinham mais em casa, gastam boa parte da mesada em restaurantes e, claro, em café.


“Na última metade do século passado, os jovens se definiam por suas músicas preferidas, as bandas que ouviam. Hoje, eles trocaram os acordes das guitarras por outra forma de entretenimento e auto-expressão: ovos de galinhas felizes, queijos locais, verduras orgânicas e microlotes de café”, afirma a jornalista Eve Turow autora do livro A Taste of Generation Yum (O gosto da Geração Hmmm, sem edição em português).


Os jovens americanos, por exemplo, estão se tornando “coffee junkies” em idades cada vez mais precoces, ao passo que os jovens adultos estão aumentando seu consumo diário em um ritmo rápido o suficiente para compensar a diminuição do consumo por pessoas mais velhas. O resultado: a demanda nos Estados Unidos, o maior consumidor de cafés especiais do mundo, atingiu o maior pico de todos os tempos. E a tendência entre os bebedores mais jovens, não só em território americano, vai elevar ainda mais o consumo da bebida.

Os jovens entre 19 a 34 anos já representam quase metade dos bebedores de café nos Estados Unidos.

Café como estilo de vida

Um novo relatório da empresa de análise de mercado Bloomberg diz que a demanda global por café chegou ao ponto mais alto de todos os tempos. Os dados mostram que os jovens de 19 a 34 anos de idade compõem agora 44% dos bebedores de café nos Estados Unidos. Mas por que, afinal, o café se tornou a bebida preferida dessas novas gerações?

Pesquisas de comportamento mostram que a bebida está atrelada principalmente a um estilo de vida que os jovens têm buscado cada vez mais. Para eles, o café representa uma variedade de experiências: as cafeterias parecem estar cada vez mais linkadas às novas tecnologias (do wi-fi grátis aos aplicativos para pedidos ou para juntar pontos em programas de fidelidade), elas também são ótimos espaços para estudos e socialização e, por fim, a personificação da bebida.

Para essas novas gerações, importa mais a experiência, e o café é uma bebida que permite com que elas vivam mais intensamente essas experiências – até mesmo pela questão química da cafeína no corpo.
Mais do que uma bebida, o café se tornou uma forma de status social.

Ele representa um estilo de vida mais saudável (os millenials consomem muito menos bebida alcoolicas que suas gerações anteriores, por exemplo), permite uma busca por conhecimento (os coffee geeks estão aí para provar) e uma relação mais justa e humanizada com o alimento: a produção de uma xícara de café envolve o agricultor, o mestre de torra, o barista.

O crescimento do mercado de cafés especiais e também a aproximação cada vez maior de formas de manejo orgânico por que a bebida tem passado estão muito ligados aos valores que as novas gerações parecem querer estar ligadas – e pelos quais estão mais dispostas a brigar.

Dito isso, temos que as novas gerações parecem estar mais sedentas por xícaras e xícaras de cafés, o que significa que o mercado vai precisar se mexer para dar conta de uma demanda cada vez mais crescente. Se isso ajudar a melhorar o café que eu ponho na minha caneca todo dia e profissionalizar o setor ainda mais sem prejudicar o outro lado da cadeia (que é o produtor), eu quero mais é que esses adolescentes venham mais cheios de sede por bons cafés.


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Rafael Tonon
 
Rafael Tonon é jornalista especializado em gastronomia e amante (e produtor) de café. Escreve para diversos veículos no Brasil e no exterior sobre comida, bebidas, tendências e boas xícaras. É colaborador do Eater (www.eater.com), o maior portal de gastronomia dos EUA, e também escreve para veículos especializados em café, como a cultuada revista nórdica Standart.